O contato linguístico entre o português e o nheengatu
A pesquisa investiga os efeitos do contato linguístico entre o português e o nheengatú na cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM). A partir de dados históricos e linguísticos, mostramos como tal contato pode ter transformado estruturas do português falado na Amazônia.
Esta pesquisa de mestrado, cujo projeto acaba de ser publicado pela revista Cadernos de Linguística, pretende investigar os efeitos do contato linguístico entre o nheengatu, língua indígena da família Tupi-Guarani, e o português brasileiro falado na cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM). Com base na teoria da evolução linguística, da ecologia do contato e da seleção e competição de traços desenvolvida por Mufwene (2001, 2008) e da coleta de dados por meio de trabalho de campo, a intenção é identificar mudanças nas estruturas morfossintáticas do Português L1 ou L2 falado pelos habitantes da região, bilíngues em português e nheengatu. Versão moderna da língua geral amazônica, o nheengatu foi a língua franca e majoritária da província do Amazonas até o final do século XIX, sendo amplamente utilizado por todos os membros do sistema colonial. Hoje, é restrito a algumas comunidades amazônicas – como as da região de São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro – e falado principalmente pelos povos Baré, Baniwa e Warekena, em substituição ou junto às suas línguas tradicionais. A atual situação de contato entre o nheengatu e o português e a ecologia multilíngue da região de São Gabriel não se dissociam da história de formação, expansão e retração da língua geral amazônica durante a colonização do Brasil – motivo pelo qual também propomos, além da análise linguística per se dos dados sincrônicos, lançar um olhar para essa história.